A Confluência Dos Rios Sagrados
[Prabhupada No Kumbha
Mela 1977]
(De uma entrevista com Atma Tattva
dasa)
Srila Prabhupada disse-nos como
fazer sankirtana viajante em carro de
boi: “vocês param em um lugar próximo a um poço, aonde as pessoas vêm pegar
água, cantem Hare Krsna, e diga-lhes que vocês são sadhus de Vrndavana indo para o Kumbha Mela, assim eles lhes darão
um lugar para ficar; então vocês fazem Kirtana
e coletam arroz e vegetais, cozinham e distribuem; não levem nada para a próxima
vila; distribuam tudo na mesma vila e distribuam pequenos livros.” Então nós
partimos de Vrndavana e viajamos até Allahabad.
Numa
cidade chamada Fatehpur, enquanto vagávamos pela rua para encontrar um local
para ficar, vimos uma casa chamada Nitai Gaura Bhavan. Tal nome é muito raro no
Norte da Índia. Dentro havia Deidades de Gaura-Nitai. O proprietário, um
advogado, era um Gaudiya Vaisnava iniciado. Ele convidou-nos a ficar e
apresentou-nos a seu sacerdote familiar, um Ramanandi de cinqüenta anos de
idade. Ramananda é um ramo da Ramanuja Sampradaya proeminente principalmente no
Norte da Índia. Este homem convidou-nos à sua casa onde permanecemos por uma
semana.
Quando
partimos, ele e toda sua família seguiram-nos, inclusive seu jovem filho, caminhando
doze quilômetros para a rua principal. A razão pela qual ele nos convidou foi
porque havia muitos ekadandi sannyasis
naquela área e ele nunca viu nenhum tridandi
sannyasi vaisnava, por isto, quando estávamos indo embora, ele realmente
sentiu-se triste. Ele estava realmente caído no chão e chorando, e enquanto o
carro de boi movia-se ele chorava com sua esposa a consolá-lo. Foi uma cena
surpreendente. De qualquer modo, dissemos para ele vir ao Kumbha Mela para ver
Srila Prabhupada.
Chegamos
ao Kumbha Mela em Navami, o nono dia, e no ekadasi,
Prabhupada veio. Depois de algum tempo, seu secretário deixou todos entrarem na
barraca. Alguém perguntou a Srila Prabhupada sobre a prasadam. Ele respondeu lentamente. Tinha muito muco em sua
garganta naquele momento. Ele estava dizendo que prasadam de ekadasi
significa sementes de lótus fritas no ghee
– muito bom. Ele estava sentado em sua cadeira com os pés estendidos por baixo
dela, e estava muito cansado. Ele dizia apenas uma palavra e então aguardava
algum tempo para dizer a próxima.
Subitamente,
houve um barulho na entrada da tenda. Alguém estava tentando entrar. Um devoto
saiu e viu que era aquele sacerdote Ramanandi. Ele tinha trouxas de roupa em
seu ombro. Disse que foi informado que poderia ver Srila Prabhupada. Ele estava
falando em hindi, mas este devoto não sabia nada de hindi e simplesmente
disse-lhe que estava muito lotada. Srila Prabhupada estava um pouco perturbado
e disse algo. Então o sacerdote entrou.
Ele
pegou uma de suas trouxas e colocou na mesa de Prabhupada. Então prestou suas
reverências e disse, “Swamiji, um pouco de prasadam
de ekadasi.”
Prabhupada
disse, “Deixe-nos ver o que é isto.” Ele abriu e todos olharam e notaram que
eram sementes de lótus fritas no ghee.
Todos gritaram, “jaya!”
Prabhupada
disse, “Eu disse-lhes. Sementes de lótus fritas no ghee.” Então ele pegou algumas.
Depois
que ele terminou aquele bocado de sementes de lótus, o homem perguntou,
“Swamiji, você lembra-se de mim?”
Prabhupada respondeu, “Sim, Nitai
Gaura Bhavan, Fatehpur.” Ele tinha estado lá há aproximadamente 40 anos atrás.
O sacerdote estava em êxtase por Prabhupada lembrar-se dele. Quando Prabhupada
fez a visita, o advogado que foi nosso anfitrião era um jovem garoto. Seu pai
tinha sido anfitrião de Prabhupada. Prabhupada perguntou sobre o homem mais
velho, o qual já havia morrido. O sacerdote estava na linha de sacerdotes
familiares. Ele também era um jovem garoto quando Srila Prabhupada visitou, mas
ele podia lembrar-se.
Então
Prabhupada olhou para o jovem filho do sacerdote, cujo nome era Prapanna (que
significa “rendição”), e pediu ao sacerdote para dar-lhe o garoto.
Então
o sacerdote disse, “Ele é seu, Swamiji. Ele esta aprendendo gramática agora,
logo que a instrução de gramática terminar eu o darei a você.”
Prabhupada
disse, “Não é necessário. Você o dá para mim agora e eu o farei um acarya.”
Então
ele disse, “Ele é seu, Swamiji, ele é seu. Ele está neste momento aprendendo os
alfabetos, assim, deixe os alfabetos e a gramática acabarem, então ele será
capaz de ler e escrever e entender versos.”
Prabhupada
insistiu, “Não, não, não, não é necessário. Dê-o para mim, e nós o faremos um acarya. Ele pregará por toda a parte.”
O homem disse: “Eu estou pensando que uma
pequena criança para você, Swamiji, seria difícil.”
Prabhupada
disse, “Não, nós temos um gurukula, e
isto não será problema.” Mas por fim ele desistiu e disse, “Quando ele estiver
pronto, você certifique que ele vehna para mim.”
Prabhupada
e o sacerdote continuaram falando. Prabhupada perguntou-lhe, “Você não foi para
a confluência dos rios tomar banho?”
O
sacerdote disse, “Eu vim para a confluência dos rios, Swamiji.” E,
repentinamente, de sua outra sacola, ele tirou um prato de latão e colocou-o
embaixo dos pés de Prabhupada. Ninguém esperava aquilo. Àquele momento, ninguém
era permitido chegar próximo nem mesmo um metro de Prabhupada para nada, mesmo
para prestar reverências. Ele estava muito doente. Quando ele colocou o prato
por baixo, eu notei claramente que Prabhupada pôs seus pés, um por um, no
prato. Então o homem tirou um pote d’água e despejou a água nos pés de
Prabhupada. Então ele pegou a água e com ternura disse, “Sangam, sangam,
confluência, confluência.” Dentro de dois minutos houve uma completa lotação na
tenda, e ele estava jogando a água em todos. Isto foi em Janeiro de 1977.
Muitos
anos depois, durante o Kumbha Mela de 1992, eu levei as crianças do gurukula de Mayapur a diferentes grupos
religiosos. Quando nós chegamos ao acampamento Ramanandi, eles tinham elegido
como líder um jovem sannyasi, então
eu levei as crianças para vê-lo.
Nós
entramos, prestamos reverências e cantamos alguns mantras. O sannyasi olhou
para os garotos. Ele estava muito feliz em vê-los. Eles todos sentaram e ele
começou a falar em sânscrito. Eu disse-lhe que nós não sabíamos sânscrito; nós
apenas cantamos alguns versos. Então ele falou em hindi. Ele disse que depois
de sua educação, ele tinha vindo para ver Prabhupada e Prabhupada tinha
dado-lhe uma revista sobre o Rathayatra
em Los Angeles.
Assim
ele levou a idéia dentro de seu coração de que como Srila Prabhupada estava
pregando dharma por todo o mundo, ele
deveria pelo menos unificar as linhas de sua sampradaya, a qual naquele momento estava dividida em muitas seitas
e não tinha um líder. Ninguém podia ensinar-lhe o comentário em sua linha,
então ele foi para muitos locais e estudou. Quando voltou, ele chamou todas as
diferentes seitas Ramanandi e eles o elegeram seu líder. Sua sampradaya tinha milhões de seguidores
no Norte da Índia.
Enquanto falava, ele lembrou-me
alguém, mas eu não podia identificar quem era. Então ele disse que o Swamiji
lhe tinha sido uma grande inspiração e ele (Prabhupada) tinha salvado sua sampradaya porque o inspirou e deste
modo ele estava inspirando todas estas pessoas. Ele disse que estava muito
feliz que eu tivesse vindo ao seu asrama
e estava muito honrado. Em um dado momento eu olhei para ele e perguntei, “você
é de algum lugar de Fatehpur?” Então ele olhou diretamente para mim e disse,
“Atma Tattva Prabhu”, e relembrou o tempo em que eu carregava-o em minhas
costas.
Então
eu disse, “você tornou-se um acarya,
não foi? Meu Guru Maharaja disse a seu pai para dá-lo a ele e que ele o faria
um acarya. As palavras de um grande sadhu nunca falham. Você unificou algo
que as pessoas pensavam que nunca ficaria junto.”
Então
ele também relembrou a cena do Kumbha Mela. Disse que naquele momento ele ia
falar, “pai, porque você não me dá a ele?” Mas porque não devia falar na frente
de seu pai ele ficou quieto.
Então,
de todo modo ele foi inspirado por Prabhupada. Esta é uma das Prabhupada tosanis. Tosan significa completa satisfação. Ele alcançou completa satisfação
de seus poucos momentos de associação com Srila Prabhupada. Agora ele está
fazendo um maravilhoso serviço. De fato, ele foi o primeiro que mencionou “na bhuto na bhavisyati”, porque ele
falou mais sânscrito que hindi. Ele sempre menciona como Prabhupada é uma
pessoa que recebeu todas as potências de Krsna: na bhuto na bhavisyati – nunca antes, jamais novamente.
Artigo da Revista “Prabhupada
Toshani” Newsletter of the Srila Prabhupada Centennial,
Vol. 5, N° 2, pg
37-8, março-abril 1996.
Tradução e revisão: David Britto radhesyamaji@yahoo.com.br
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