segunda-feira, 21 de maio de 2012

Prabhupada No Kumbha Mela 1977 A Confluência Dos Rios Sagrados



A Confluência Dos Rios Sagrados

[Prabhupada No Kumbha Mela 1977]

(De uma entrevista com Atma Tattva dasa)


Srila Prabhupada disse-nos como fazer sankirtana viajante em carro de boi: “vocês param em um lugar próximo a um poço, aonde as pessoas vêm pegar água, cantem Hare Krsna, e diga-lhes que vocês são sadhus de Vrndavana indo para o Kumbha Mela, assim eles lhes darão um lugar para ficar; então vocês fazem Kirtana e coletam arroz e vegetais, cozinham e distribuem; não levem nada para a próxima vila; distribuam tudo na mesma vila e distribuam pequenos livros.” Então nós partimos de Vrndavana e viajamos até Allahabad.
             Numa cidade chamada Fatehpur, enquanto vagávamos pela rua para encontrar um local para ficar, vimos uma casa chamada Nitai Gaura Bhavan. Tal nome é muito raro no Norte da Índia. Dentro havia Deidades de Gaura-Nitai. O proprietário, um advogado, era um Gaudiya Vaisnava iniciado. Ele convidou-nos a ficar e apresentou-nos a seu sacerdote familiar, um Ramanandi de cinqüenta anos de idade. Ramananda é um ramo da Ramanuja Sampradaya proeminente principalmente no Norte da Índia. Este homem convidou-nos à sua casa onde permanecemos por uma semana.
             Quando partimos, ele e toda sua família seguiram-nos, inclusive seu jovem filho, caminhando doze quilômetros para a rua principal. A razão pela qual ele nos convidou foi porque havia muitos ekadandi sannyasis naquela área e ele nunca viu nenhum tridandi sannyasi vaisnava, por isto, quando estávamos indo embora, ele realmente sentiu-se triste. Ele estava realmente caído no chão e chorando, e enquanto o carro de boi movia-se ele chorava com sua esposa a consolá-lo. Foi uma cena surpreendente. De qualquer modo, dissemos para ele vir ao Kumbha Mela para ver Srila Prabhupada.
             Chegamos ao Kumbha Mela em Navami, o nono dia, e no ekadasi, Prabhupada veio. Depois de algum tempo, seu secretário deixou todos entrarem na barraca. Alguém perguntou a Srila Prabhupada sobre a prasadam. Ele respondeu lentamente. Tinha muito muco em sua garganta naquele momento. Ele estava dizendo que prasadam de ekadasi significa sementes de lótus fritas no ghee – muito bom. Ele estava sentado em sua cadeira com os pés estendidos por baixo dela, e estava muito cansado. Ele dizia apenas uma palavra e então aguardava algum tempo para dizer a próxima.
             Subitamente, houve um barulho na entrada da tenda. Alguém estava tentando entrar. Um devoto saiu e viu que era aquele sacerdote Ramanandi. Ele tinha trouxas de roupa em seu ombro. Disse que foi informado que poderia ver Srila Prabhupada. Ele estava falando em hindi, mas este devoto não sabia nada de hindi e simplesmente disse-lhe que estava muito lotada. Srila Prabhupada estava um pouco perturbado e disse algo. Então o sacerdote entrou.
             Ele pegou uma de suas trouxas e colocou na mesa de Prabhupada. Então prestou suas reverências e disse, “Swamiji, um pouco de prasadam de ekadasi.”
             Prabhupada disse, “Deixe-nos ver o que é isto.” Ele abriu e todos olharam e notaram que eram sementes de lótus fritas no ghee. Todos gritaram, “jaya!”
             Prabhupada disse, “Eu disse-lhes. Sementes de lótus fritas no ghee.” Então ele pegou algumas.
             Depois que ele terminou aquele bocado de sementes de lótus, o homem perguntou, “Swamiji, você lembra-se de mim?”
Prabhupada respondeu, “Sim, Nitai Gaura Bhavan, Fatehpur.” Ele tinha estado lá há aproximadamente 40 anos atrás. O sacerdote estava em êxtase por Prabhupada lembrar-se dele. Quando Prabhupada fez a visita, o advogado que foi nosso anfitrião era um jovem garoto. Seu pai tinha sido anfitrião de Prabhupada. Prabhupada perguntou sobre o homem mais velho, o qual já havia morrido. O sacerdote estava na linha de sacerdotes familiares. Ele também era um jovem garoto quando Srila Prabhupada visitou, mas ele podia lembrar-se.
             Então Prabhupada olhou para o jovem filho do sacerdote, cujo nome era Prapanna (que significa “rendição”), e pediu ao sacerdote para dar-lhe o garoto.
             Então o sacerdote disse, “Ele é seu, Swamiji. Ele esta aprendendo gramática agora, logo que a instrução de gramática terminar eu o darei a você.”
             Prabhupada disse, “Não é necessário. Você o dá para mim agora e eu o farei um acarya.”
             Então ele disse, “Ele é seu, Swamiji, ele é seu. Ele está neste momento aprendendo os alfabetos, assim, deixe os alfabetos e a gramática acabarem, então ele será capaz de ler e escrever e entender versos.”
             Prabhupada insistiu, “Não, não, não, não é necessário. Dê-o para mim, e nós o faremos um acarya. Ele pregará por toda a parte.”
              O homem disse: “Eu estou pensando que uma pequena criança para você, Swamiji, seria difícil.”
             Prabhupada disse, “Não, nós temos um gurukula, e isto não será problema.” Mas por fim ele desistiu e disse, “Quando ele estiver pronto, você certifique que ele vehna para mim.”
             Prabhupada e o sacerdote continuaram falando. Prabhupada perguntou-lhe, “Você não foi para a confluência dos rios tomar banho?”
             O sacerdote disse, “Eu vim para a confluência dos rios, Swamiji.” E, repentinamente, de sua outra sacola, ele tirou um prato de latão e colocou-o embaixo dos pés de Prabhupada. Ninguém esperava aquilo. Àquele momento, ninguém era permitido chegar próximo nem mesmo um metro de Prabhupada para nada, mesmo para prestar reverências. Ele estava muito doente. Quando ele colocou o prato por baixo, eu notei claramente que Prabhupada pôs seus pés, um por um, no prato. Então o homem tirou um pote d’água e despejou a água nos pés de Prabhupada. Então ele pegou a água e com ternura disse, “Sangam, sangam, confluência, confluência.” Dentro de dois minutos houve uma completa lotação na tenda, e ele estava jogando a água em todos. Isto foi em Janeiro de 1977.

             Muitos anos depois, durante o Kumbha Mela de 1992, eu levei as crianças do gurukula de Mayapur a diferentes grupos religiosos. Quando nós chegamos ao acampamento Ramanandi, eles tinham elegido como líder um jovem sannyasi, então eu levei as crianças para vê-lo.
             Nós entramos, prestamos reverências e cantamos alguns mantras. O sannyasi olhou para os garotos. Ele estava muito feliz em vê-los. Eles todos sentaram e ele começou a falar em sânscrito. Eu disse-lhe que nós não sabíamos sânscrito; nós apenas cantamos alguns versos. Então ele falou em hindi. Ele disse que depois de sua educação, ele tinha vindo para ver Prabhupada e Prabhupada tinha dado-lhe uma revista sobre o Rathayatra em Los Angeles.
             Assim ele levou a idéia dentro de seu coração de que como Srila Prabhupada estava pregando dharma por todo o mundo, ele deveria pelo menos unificar as linhas de sua sampradaya, a qual naquele momento estava dividida em muitas seitas e não tinha um líder. Ninguém podia ensinar-lhe o comentário em sua linha, então ele foi para muitos locais e estudou. Quando voltou, ele chamou todas as diferentes seitas Ramanandi e eles o elegeram seu líder. Sua sampradaya tinha milhões de seguidores no Norte da Índia.
Enquanto falava, ele lembrou-me alguém, mas eu não podia identificar quem era. Então ele disse que o Swamiji lhe tinha sido uma grande inspiração e ele (Prabhupada) tinha salvado sua sampradaya porque o inspirou e deste modo ele estava inspirando todas estas pessoas. Ele disse que estava muito feliz que eu tivesse vindo ao seu asrama e estava muito honrado. Em um dado momento eu olhei para ele e perguntei, “você é de algum lugar de Fatehpur?” Então ele olhou diretamente para mim e disse, “Atma Tattva Prabhu”, e relembrou o tempo em que eu carregava-o em minhas costas.
             Então eu disse, “você tornou-se um acarya, não foi? Meu Guru Maharaja disse a seu pai para dá-lo a ele e que ele o faria um acarya. As palavras de um grande sadhu nunca falham. Você unificou algo que as pessoas pensavam que nunca ficaria junto.”
             Então ele também relembrou a cena do Kumbha Mela. Disse que naquele momento ele ia falar, “pai, porque você não me dá a ele?” Mas porque não devia falar na frente de seu pai ele ficou quieto.
             Então, de todo modo ele foi inspirado por Prabhupada. Esta é uma das Prabhupada tosanis. Tosan significa completa satisfação. Ele alcançou completa satisfação de seus poucos momentos de associação com Srila Prabhupada. Agora ele está fazendo um maravilhoso serviço. De fato, ele foi o primeiro que mencionou “na bhuto na bhavisyati”, porque ele falou mais sânscrito que hindi. Ele sempre menciona como Prabhupada é uma pessoa que recebeu todas as potências de Krsna: na bhuto na bhavisyati – nunca antes, jamais novamente.



Artigo da Revista “Prabhupada Toshani” Newsletter of the Srila Prabhupada Centennial,
                                Vol. 5, N° 2, pg 37-8, março-abril 1996.

Tradução e revisão: David Britto radhesyamaji@yahoo.com.br


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